17/10/2016

A GRANDE MARCHA

Autor: João Batista Ericeira é professor universitário e sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

Após percorrer 25 mil quilômetros do território nacional, os membros da Coluna Prestes exilaram-se na Bolívia. Conheceram o interior do Brasil, de meados dos anos vinte do século passado. Sem comunicações, cercados de pobreza por todos os lados, cavalgando seus cavalos, jovens tenentes do Exército liderados pelo capitão Luís Carlos Prestes, iniciaram a primeira guerrilha moderna, depois repetida na China e em Cuba, denominada a Grande Marcha.

O marcante episódio da História pátria desenrolou-se também em solo maranhense com a passagem da Coluna pelo sul do Estado, transitando nos municípios de Carolina, Balsas, Mirador, Colinas, Grajaú, Riachão, Pastos Bons, e outras paragens, à época povoados, depois elevados a condição de municípios. O secretário da Coluna, Lourenço Moreira Lima, relata: por onde passaram os revoltosos, por medo ou esperança, foram muito bem recebidos. Depois de dois anos, entre 1925 e 1927, partiram para o exílio. Em seguida eclodiu a quartelada de 1930, batizada de Revolução, os tenentes foram chamados ao protagonismo da República Nova, liderada por Getúlio Vargas.

Às vésperas de 1930, Oswaldo Aranha promove encontro entre o capitão Luís Carlos Prestes e Getúlio Vargas. Este lhe oferece o comando militar do Movimento. Prestes recusa, sob o argumento de que se convertera ao comunismo, não seria correto liderar a empreitada burguesa.

Tratava-se de um homem correto, não aderira às lições de Maquiavel, como 25 anos depois faria Fidel Castro, em Cuba, chefiando a guerrilha para depor o ditador Fulgêncio Batista. Desceu de Sierra Maestra, chegou a Havana, empalmou o poder, e depois declarou-se socialista. Os cientistas políticos dirão: o certo e o errado em política são relativizáveis, dependem da ótica que se vê.

O episódio da Revolução Cubana gerou consequências para a América Latina e para humanidade. Levou os Estados Unidos a apoiarem as ditaduras militares do continente, quase conduziu a guerra nuclear em 1962, teve implicações com o assassinato de John Kennedy no ano seguinte.

A brasileira, de 1964, após a deposição de João Goulart em 31 de março, provocou mudanças na política do Maranhão, encerrou o ciclo do vitorinismo, iniciando o sarnesismo. Vigorando durante os vinte anos da ditadura, prosseguiu após a redemocratização com a eleição de José Sarney para vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, e sua posse na Presidência.

A trajetória da Coluna, seu périplo maranhense, é abordado pelo escritor e pesquisador Sálvio Dino, no livro “A Coluna Revolucionária Prestes A Exilar-se- Passagem pelo Sul Maranhense”. Neste trabalho, o autor revela que naquela lonjura do nosso sertão, havia uma sociedade de homens esclarecidos, dotados de forte consciência política, receptivos ao ideário dos revoltosos

O ideário da Coluna, por mais incrível que pareça, até o presente não se cumpriu, dele constava: regeneração dos costumes políticos, o combate a corrupção, a verdade eleitoral e a justiça social. Eram postulados da ideologia liberal e burguesa ainda não de todo executados pelo sistema político-eleitoral em vigor. Agora mesmo, estamos a discutir reformas para dar-lhe legitimidade, ensejando a efetiva participação da sociedade na condução política do Estado.

Nesse sentido, a trajetória da Coluna prossegue, apropriada das mais diversas formas, na China, em Cuba, nos Estados Unidos. Aqui no Maranhão, em 1965, o nome foi usado na campanha do Comandante Renato Archer ao governo do Estado, liderada pelo deputado Cid Carvalho.

A sessão conjunta das duas academias, Maranhense de Letras, e de Letras Jurídicas, dia 14 último, para o lançamento do livro de Sálvio Dino, revestiu-se do encantamento do relato de casos da São Luís de meados dos anos sessenta do século passado, a exemplo do Clube do Urucuzeiro, reunindo na Praça João Lisboa, à sombra da árvore frondosa, sociais-democratas, socialistas, nacionalistas, todos convictamente democratas, aspirando viver em uma sociedade mais fraterna e justa.

Convém lembrar, a adesão de Luís Carlos Prestes ao comunismo data de Manifesto divulgado em maio de 1930. A partir daí escritores como Jorge Amado encarregaram-se da sua mitificação em livros como “ O Cavalheiro da Esperança”. Sálvio relatou sua reação ao ler a biografia.

Adveio a Guerra Fria e ideológica, rotulando de comunistas a todos que se opunham ao poder estabelecido, adjetivando pejorativamente o termo. Excluindo os equívocos, a Grande Macha prossegue, por um Maranhão e um Brasil melhores. Significativamente, naquela noite, reuniram-se gerações diferentes, o presidente Benedito Buzar, o Governador Flavio Dino, o escritor Rossini Corrêa. A Grande Marcha continua.

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