Momentos mágicos vivemos em João Pessoa, no VI Encontro Nacional de Academias Jurídicas, presidido por Ricardo Bezerra, presidente da Academia Paraibana de Letras Jurídicas-APLJ. Na oportunidade, comemorava-se os 42 anos da entidade, e o centenário de Jackson do Pandeiro, personalidade marcante, como ritmista e compositor da Música Popular Brasileira. Nascido em 31 de agosto de 1919, no município de Alagoa Grande, revelou-se um pesquisador das manifestações do baião, do forro, do samba, e do coco, sobretudo deste último gênero em que foi iniciado pela mãe Flora Mourão, cantadora de coco. No Centro Cultural Ariano Suassuna, tivemos a satisfação de ouvir apresentações da Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste, entoando clássicos como “Sebastiana”, de 1953; o “Canto da Ema” de 1956; e “Chiclete com Banana “, de 1959. Incorporados ao cancioneiro de Nordeste e do Brasil estão gravados na alma nacional.
Um aspecto digno de nota é a abertura da Academia para a sociedade, e as parcerias estabelecidas com o meio empresarial, destacando-se, por exemplo, o ciclo de palestras em que o empresário Roberto Cavalcanti desenvolveu o tema “Mídia, Política e Direito”. Altamente pertinente pois o fenômeno jurídico fica incompreensível sem essas dimensões. Da cultura, como um todo, em que se inclui a música, afinal, o Direito é um artefato cultural.
No final dos anos cinquenta do século passado, precisamente em 1959, o paraibano Jackson do Pandeiro gravou a canção “Chiclete com Banana”, em sua letra lê-se: “eu só boto bebop no meu samba/ Quando Tio Sam tocar um tamborim/ Quando ele pegar/ No pandeiro e no zabumba/ Quando ele aprender que o samba não rumba...”.
Como é sabido, o Tio Sam representa os Estados Unidos. Sua ilustração data de 1870. Inspirado no rosto do presidente Lincoln foi utilizado nas duas guerras mundiais, simbolizando o país. A composição é um repto pela afirmação da cultura brasileira à época eivada de americanismos incluindo a música popular, impregnada do Rock and Roll. Mencionava os equívocos dos norte-americanos em relação à América Latina, confundindo o samba com a rumba, achando ser Buenos Aires a capital do Brasil. Era um tempo de afirmação nacional, na música, pelo surgimento da bossa nova; na arquitetura pela construção de Brasília. A democracia imaginava-se consolidada, sob o binômio desenvolvimento e justiça social. A potência dos trópicos parecia emergir.
Jackson do Pandeiro não tinha militância política, era apenas um artista. Soube captar nas interpretações e nas composições o sentimento de brasilidade, que vinha da sua ancestralidade, aprendeu a cantar e dançar o coco com a mãe, de procedência africana. Sustentava que a nossa música popular guardava as suas raízes nesse gênero, incorporando o forró e o samba. Com Luiz Gonzaga revelou a música nordestina ao país, enriquecendo nosso cancioneiro.
A Paraíba deu-lhe régua e compasso, por ser solo fértil onde brota o amor a terra, matéria prima do patriotismo. Em artigo publicado aqui em “O Imparcial”, sob o título “Eita Paraíba! ”, publicado dia 29 de janeiro de 2013, recordei as minhas visitas àquele Estado, sublinhando a primeira, nos “anos de chumbo” quando os paraibanos enfrentavam com altivez e espírito cívico as agruras do regime ditatorial, conservando as melhores tradições do chão que serviu de berço a Epitácio Pessoa, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna e Celso Furtado, dentre outros.
Recebemos, com muita satisfação e orgulho o título de membro honorário da Academia Paraibana de Letras Jurídicas. Participamos da sessão solene na Assembleia Legislativa do Estado e da posse do nosso colega no Conselho Federal da OAB, Rodrigo Toscano, naquele sodalício. Muitas emoções. Ainda bem que o nosso coração estava com a força da Paraíba.